MEMORICIDADE – A Revista do Museu da Cidade de São Paulo

Para demonstrar as tentativas de apagamento da história e memória coletiva de um dos bairros mais tradicionais do centro de São Paulo que tem uma importância histórica e cultural muito ampla para a capital paulista e para o país – o Bixiga é necessário revelar o imenso “acervo” histórico, social, cultural, arquitetônico e artístico da cidade de São Paulo. Apesar de ter sido construída e reconstruída inúmeras vezes, a cidade traz inscrita em sua paisagem urbana e sociocultural não apenas a história “visível” e ostensiva das classes dominantes, mas, sobretudo, traz inscrita a história “invisível” da classes subalternas – representada pelo seu modo de vida, costumes, manifestações culturais e religiosas e, pelo intenso processo de lutas, resistências e rebeliões frente a opressão.”

Em 2020 o Instituto Bixiga foi convidado à participar da primeira edição da Revista Memoricidade. A seção selecionada para nossa contribuição foi “Cidade Revelada: reportagem que apresentará em cada edição  aspectos históricos e contemporâneos sobre um bairro, região ou grupo  social da cidade“.

Com a sede localizada no tradicional bairro do Bixiga desde o ano de 2015, o Instituto Bixiga homenageou esse importante e histórico território central de São Paulo como tema central de nosso primeiro artigo na Revista, com o título “O ‘visível’ que oculta e o ‘invisível’ que revela Tensões e Disputas na construção da História de um Território.”

Pertencente à região central de São Paulo, o bairro do Bixiga – um dos mais tradicionais da cidade – tem uma importância histórica e cultural muito ampla para a capital paulista e para o país.           

Localizado nas encostas da extensa colina que acompanha o grande espigão do Caaguaçú (Av. Paulista) que divide as bacias dos rios Pinheiros e Tietê em direção ao chamado “triângulo histórico” de São Paulo, o Bixiga nasceu no processo de expansão urbana da cidade iniciado no século XIX.

Contudo, diferentemente de outros bairros estabelecidos nesse período, o Bixiga reuniu uma população muito mais diversificada (indígenas, negros, imigrantes italianos, portugueses entre outras nacionalidades, e mais recentemente nordestinos) composta por trabalhadores de diversos ramos de atividade que preservam nas artes e ofícios do bairro, suas tradições e cultura (amoladores, vendedores, comerciantes, cantineiros, alfaiates, costureiros, sapateiros, etc.).

Sua ocupação urbana remonta a um dos primeiros quilombos paulistanos, localizado nas margens do Rio Saracura – o Quilombo Saracura, onde viviam e perambulavam os “povos da floresta” (indígenas, caipiras e quilombolas), lavadeiras, roceiras e vendedoras que utilizavam as águas cristalinas do rio para sobrevivência e trabalho.

No final do século XIX, com a crescente corrente imigratória em direção à São Paulo acompanhada pela expansão do perímetro urbano nessa direção, o bairro do Bixiga passou também a acolher grande parte dos imigrantes italianos que se fixaram na capital paulista, principalmente das regiões da Calábria e da Basilicata.

A partir da década de 1950, com a intensificação das migrações inter-regionais no Brasil, o Bixiga foi o bairro escolhido por muitos trabalhadores nordestinos que vieram tentar a vida na grande megalópole. Por esse motivo, o Bixiga é um bairro marcado pela diversidade social e por uma mistura singular de influências culturais, de hábitos e sotaques que se tornaram símbolos da metrópole brasileira.

Atualmente, a denominação oficial do território do Bixiga é “Distrito da Bela Vista”, em decorrência da primeira lei de alteração do nome do bairro oficializada em 1910 (Lei nº 1.242, de 26 de dezembro de 2010), apesar de inúmeras cartografias históricas anteriores a essa data indicar o nome Bela Vista ao invés de Bixiga.

Sobre a Revista

A Memoricidade, revista do Museu da Cidade de São Paulo, é um periódico semestral, voltado à publicação de artigos, resenhas e entrevistas que tenham como foco a reflexão de estudos sobre a cidade de São Paulo, construindo um espaço acessível para abrigar discussões criteriosas sobre as questões históricas e contemporâneas. Desse modo, a criação da Memoricidade amplia as possibilidades de comunicação do Museu com a sociedade, em uma dimensão além da obtida por meio da extroversão de seus acervos em exposições e ações educativas.

A partir da adoção de uma matriz transdisciplinar, a Memoricidade assume o caráter articulador e de reflexão sobre as dinâmicas atuantes no território de atuação do Museu da Cidade de São Paulo. É intenção que essas reflexões possam ser geradas a partir do estabelecimento do necessário diálogo entre os habitantes e os distintos campos do saber envolvidos nos estudos sobre a cidade, a memória e o patrimônio cultural, tais como: Museologia, Arquitetura e Urbanismo, Antropologia, Sociologia, Ciências Ambientais, Geografia, História, Sociologia e Educação.

Em sua primeira edição, a Memoricidade abordará em seu conteúdo reflexões sobre as distintas formas de invisibilidades na cidade de São Paulo, a partir da contribuição de profissionais e pesquisadores que foram convidados pelo conselho editorial da revista.

Lançamento da Revista em 2020

A primeira edição da publicação, que abordou diferentes aspectos da invisibilidade na cidade, foi lançada dia 29 de janeiro de 2020, às 17h.

O lançamento ocorreu dentro do projeto “Diálogos no Museu da Cidade”, que promoveu um debate com três articulistas da primeira edição da revista: Alecsandra Matias de Oliveira (a cidade, seus habitantes e suas memórias), Bruno Puccinelli (invisibilidade LGBTQIA+ na cidade), e Giselle Beiguelman (arte, patrimônio e esfera pública). A conversa foi mediada pelo diretor do Museu, Marcos Cartum. Após o evento a revista foi disponibilizada, impressa e virtualmente, de forma gratuita.

Sobre o Museu da Cidade de São Paulo

O Museu da Cidade de São Paulo é uma rede de casas históricas distribuídas nas várias regiões da cidade. Atualmente, seu acervo arquitetônico é composto pelo Solar da Marquesa de Santos, Beco do Pinto, Casa da Imagem, Casa do Butantã, Casa do Caxingui, Capela do Morumbi, Casa do Tatuapé, Sítio da Ressaca, Sítio Morrinhos, Casa do Grito, Monumento à Independência, Casa Modernista, Chácara Lane, além da guarda do Museu das Culturas Brasileiras. Também possui acervos de grande valor histórico como o acervo Fotográfico; Bens Móveis; História Oral e Documental.

Sobre o projeto Diálogos no Museu da Cidade

Lançado em abril de 2019, o projeto Diálogos no Museu da Cidade foi estruturado a partir de curadoria compartilhada entre os setores da Museologia, Curadoria, Educativo e Arquitetura do museu com o objetivo de apresentar a sua história institucional e, sobretudo, destacar o seu papel social como espaço público privilegiado para as necessárias reflexões sobre as dinâmicas culturais e sociais da cidade de São Paulo.

Nesse sentido, o projeto Diálogos no Museu articula as diferentes ações culturais em desenvolvimento no âmbito do Museu, buscando estruturar as ações curatoriais; oferecer suporte à produção de conteúdo para as futuras exposições; promover a reflexão sobre as exposições em cartaz; desenvolver ações extramuros da instituição (expedições, exposições, caminhadas, dentre outros); estimular a pesquisa acadêmica, interna e externa, a partir dos seus acervos institucionais; e promover a aproximação do museu com as comunidades acadêmica e museológica e a população da cidade sobre a qual a instituição atua, de modo a exercer todo o seu potencial institucional no processo contínuo e dinâmico de construção da cidade física e simbólica.

Acompanhe a programação e as novidades do Instituto Bixiga cadastrando-se gratuitamente no site aqui.

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