Vilas Operárias: o domínio da fábrica na paisagem urbana de São Paulo

Autoria: Danielle Franco da Rocha, Edimilsom Peres Castilho, Eribelto Peres Castilho.

Nas primeiras décadas do século XX, a nascente indústria paulistana exigia um número sempre crescente de trabalhadores, situação que demandava um expressivo aumento de moradias para abrigar a classe operária empregada nas atividades ligadas a esse setor.

A solução ideal defendida desde fins do séc. XIX pela higiene pública para a questão da habitação popular era a construção das Vilas Operárias pelos poderes estatais ou pelos industriais nos bairros periféricos da cidade. “Solução” que combinava a pretensão utópica da burguesia industrial de “fabricação da classe trabalhadora desejada”, a luta sistemática dos higienistas sociais contra as moradias coletivas e insalubres da população “pobre” da cidade, e a possibilidade de mais um negócio lucrativo tanto para os industriais, quanto para as companhias de saneamento, com a construção das “habitações higiênicas e baratas”.

Para normatizar e incentivar a construção de Vilas Operárias, o governo da época realizou diversos concursos públicos e instituiu legislação específica para habitação operária, inclusive com isenção de impostos para os industriais.

Fonte: Hugo Segawa

Embora haja variações, as Vilas Operárias construídas na cidade de São Paulo são conjuntos de moradias erguidas no interior de um terreno interligadas por uma via interna que acessa a via pública, porém conformando diversas tipologias.

Geralmente eram construídas próximas ao centro industrial que empregava seus moradores, chegando, em alguns casos, a comportar várias ruas, praças, jardins, creches, centros comunitários, escolas, igrejas e outros bens de uso coletivo, como o exemplo da Vila Operaria Maria Zélia concluída em 1917 pelo industrial Jorge Street para instalar os funcionários da tecelagem Cia Nacional de Tecidos da Juta no Belenzinho. (ver material apoio)

Fonte: Arquivo Municipal SP

Outro exemplo de Vila Operária compostas por várias ruas e funções diversificadas entre moradia e comércio é a Vila Economizadora da Luz, concluída em 1915 pela Sociedade Mútua Economizadora Paulista nas margens do Rio Tamanduateí. (ver material apoio)

Fonte: Editora SENAC-SP

Outra tipologia de moradias que eram construídas simultaneamente as Vilas Operárias devido a grande demanda por habitação na época eram as Vilas Rentistas, construídas por empreendedores mobiliários e “capitalistas” da construção civil. No tradicional bairro do Bixiga, a Vila Itororó é um bom exemplo de Vila Rentista. Construída na década de 1920 pelo comerciante português Francisco de Castro, possuía um palacete, clube recreativo e uma pequena praça rodeada por casas de aluguel, como pode ser verificado no Arquivo Milu Leite.

Uma Vila Rentista bastante conhecida no bairro dos Campos Elísios é o Parque Residencial Savóia construído em 1939 para locação à famílias de imigrantes.

Outra Vila Operária bem conservada na região central de São Paulo é a Vila dos Ingleses construída entre 1915 e 1919 para abrigar os engenheiros que trabalhavam nas obras da Estação da Luz e de expansão da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. 

Nos antigos bairros operários da cidade de São Paulo, principalmente nos localizados próximo ao trajeto ferroviário, como o Bom Retiro, Brás, Belém, Belenzinho, Mooca, Ipiranga e Lapa, estão espalhadas inúmeras Vilas Operárias, construídas contiguas ou próximas de indústria importantes que já não existem mais, mas que permanecem marcando a paisagem urbana atual, deixando uma rica herança cultural material e imaterial desse importante período histórico.

Quanto a ideia de que as Vilas Operárias constituem um capítulo encerrado de nossa história, verificamos, ao contrário, que além de perdurarem na paisagem urbana brasileira sob vários aspectos, ainda desempenham um importante papel na lógica de urbanização e no reajustamento do trabalho às necessidades das novas relações de produção capitalista.

Vila dos Trabalhadores da Usina Belo Monte( UHE Belo Monte)

O resultado dessa pesquisa também pode ser verificado no Webdocumentário Entre Vilas que foi realizado pelo Centro de Pesquisa e Formação do SESC-SP e Estúdio Crua, com pesquisa histórica do Instituído Bixiga.

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